segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Eram quatro horas da tarde de uma terça feira. Na rua Duartina, centro da cidade, uma mulher grita "Meu filho foi preso!". Chora, ri. Parece soluçar entre um emaranhado de emoções. Os transeuntes e pais a olham curiosos. Não chegam a compreender se é alegria, tristeza, comoção ou desespero. Seu último grito antes de entrar no ônibus esclarece todas dúvidas: "Graças a deus!".

Se você me perguntasse o que ela tinha, eu diria - sede. A maneira como seus olhos brilhavam cheio de secura, os seus pés se moviam ásperos, arrastando areias hipotéticas. Enquanto a observava entre as pessoas daquela sala branca, parecia ser a única a não ter nenhum tipo de contentamento.

Explico melhor. Estávamos na defensoria. Terça feira, dia de atendimentos aos pais de menores infratores. Cirley espera sua vez, não pacientemente como os outros pais, mas como se essa sede a comesse por dentro. A defensora já alcança o quinto atendimento do dia e ainda faltam diversas tragédias, de tamanhos diversos, para ela que possa ser atendida.
Aguarda o resultado do julgamento do seu filho, acusado de roubar uma moto. A defensora chama na quietude da sala - Israel.. ! Família do Israel Gomes. Israel é um nome forte para se dar a um filho. Penso da onde veio a inspiração. Cirley se dirige a saletinha de atendimento. A defensora discorre pacientemente sobre o processo de seu filho. Explica em minúcia os detalhes da lei, o que funciona na teoria, como será na prática. Cirley a olha com calma. Uma calma surpreendente. A defensora prossegue, ligeiramente sem graça com a postura estranha da mulher.




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